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história do cacuriá
quarta-feira, 26 de agosto de 2015
Dona Teté (biografia)
Em 1924, no Sítio da Conceição, bairro do Batatã, em São Luís do Maranhão. Veio ao mundo pelas mãos de uma parteira, em casa mesmo, como todos em sua família de oito irmãos. Passou a ser chamada de Teté no dia do seu batizado, a pedido do padre, que achava o nome Almerice muito grande para uma menina tão pequenina.
Criada com a avó paterna e a madrinha – pois perdeu a mãe aos quatro anos de idade e o pai aos quatorze - Dona Teté passou a infância na rua do Cisco, hoje Riachuelo, no bairro do João Paulo. Aos 12 anos começou a trabalhar como empregada doméstica, ofício que só largou aos 58 para cantar cacuriá. Estudava em casa, fazendo cartilha, e cursou apenas a 1ª série do ensino fundamental. Não pôde continuar os estudos por não ter como pagá-los e, também, porque precisava trabalhar. Mas todas essas dificuldades não foram obstáculo para que sua estrela viesse a brilhar anos mais tarde. Dona Teté define-se como autodidata. Confessa que aprendeu a tocar caixa aos oito anos de idade, “espiando” uma senhora chamada Maximiana, que morava perto de sua casa. Como ninguém da sua família gostava de participar de manifestações populares, ela teve que improvisar uma passagem na cerca do seu quintal para poder ter acesso à casa de dona Maximiana. “Eu aprendi olhando e escutando, ninguém me ensinou”, enfatiza sempre que é questionada sobre o assunto. Assim que aprendeu a tocar caixa, a pequena Teté passou a ser freqüentadora assídua de ladainhas e alvoradas. Sua inserção no mundo da cultura popular se deu por volta dos seus 50 anos, quando começou a participar das festividades do Divino Espírito Santo, promovidas pelo folclorista Alauriano Campos de Almeida, o ‘seu’ Lauro, na Vila Ivar Saldanha, emSão Luís. Integrou também o tambor de crioula, mas sua grande paixão passou a ser a dança do cacuriá.
Cacuriá
O cacuriá é uma dança típica do estado do Maranhão, no Brasil, surgida como parte das festividades do Divino Espírito Santo, uma das tradições juninas. A dança é feita em pares com formação em círculo, o "cordão", acompanhada por instrumentos de percussão chamados caixas do Divino (pequenos tambores).
No final da Festa do Divino Espírito Santo, após a chamada derrubada do mastro, as caixeiras do carimbó podem descansar. É neste momento que elas passam à porção profana da festa, com o cacuriá. A parte vocal é feita por versos improvisados respondidos por um coro de brincantes. O ritmo é uma derivação do carimbó maranhense.
Inicialmente, o cacuriá era praticado unicamente com as caixas, mas aos poucos foi-se acrescentando outros instrumentos, como banjo, violão, clarinete e flauta.
A representante mais conhecida do cacuriá é Dona Teté do Cacuriá, uma percussionista maranhense muitas vezes creditada como uma das criadoras do ritmo e considerada responsável pela introdução dos novos instrumentos
A música e as danças são constituídas por músicas menores. O seu ritmo é dado por caixas e sempre há uma pessoa que introduz a ladainha, seguida pelos participantes que, além de dançar, respondem ao coro.
A dança é feita aos pares ou em formato de roda. As moças dançam com blusas geralmente curtas e saia comprida rodada, sempre adornadas por flores. Já os rapazes costumam usar colete sem camisa por baixo e calças curtas. Ambos dançam descalços.
Seguem as letras de algumas músicas do Cacuriá, mas é preciso lembrar que como se trata de uma dança popular, é comum que os versos sejam trocados ou até mesmo improvisados:
Bananeira:
Bananeira ou banana
Ainda ontem eu comi
Uma banana de lá
Não me bota n'água
Que eu não sei nadar
A toada é a mesma
Olha lá
O mel é bom com cará
A toada é a mesma
Olha lá
Vamos dançar cacuriá
A toada é a mesma
Olha lá
Cabeça de Bagre:
Cabeça de bagre não tem que chupar
Joguei anzol n'água peguei acará
Cabeça de bagre virou jerêrê
Ora bota no copo que eu quero beber
Cabeça de bagre virou lobisomem
Só que essa acará com pirão se come
Cabeça de bagre não tem que chupar
mulher bota fora homem vai juntar
Entre o Cacuriá e o Carimbó
Indumentária
A Dança
Grupo Cacuriá de Filha Herdeira de Brasília
Cacuriá na Festa do Divino Espírito Santo
O Cacuriá e o Folclore
Depois da derrubada do mastro que acontece ao final da Festa do Divino as caixeiras de carimbó descansam ao passar à porção profana dos festejos, no Cacuriá. O conjunto de vozes é composto por versos respondidos de maneira improvisada por coro de brincantes. A Dança do Carimbó maranhense representa ritmo típico do evento.
Nos seus primeiros dias folclóricos a dança era praticada apenas com caixas. Aos poucos, com o reconhecimento e popularidade entre o público, novos instrumentos foram adicionados para o arranjo musical, caso das flautas, clarinetes, violões e banjo.
Dona Teté do Cacuriá representa principal símbolo do movimento folclórico. Por vezes a percussionista natural do Maranhão é citada por introduzir novos instrumentos no sentido de enriquecer os traços musicais do gênero.
A história aponta que a dança foi desenvolvida na segunda metade do século XX, no interior do Maranhão. De modo rápido conquistou sucesso na capital! O carimbó de caixa, instrumento que serve para batucar, consiste no instrumento fundamental do Cacuriá.
No acompanhamento geral há instrumentos de percussão conhecidos como “Caixas do Divino”. Esses pequenos tambores feitos geralmente com couro de boi, acompanham a dança, animada por um cantador ou cantadora, cujos versos de improviso são respondidos por um coro formado pelos brincantes.
O repertório de músicas, em geral, é composto pelos próprios Grupos.
As músicas curtas fazem parte das danças. Existe uma pessoa que introduz as ladainhas, ela é seguida pelos demais participantes que dançam e respondem o coro no compasso.
As mulheres dançam com blusas geralmente curtas e saias rodadas compridas e coloridas.Elas geralmente adornam o cabelo com flores ou em outras partes do corpo. Já os homens geralmente usam colete sem camisa por baixo e calças curtas, ou por vezes blusas e calças bordadas. A roupa masculina sempre acompanha a estampa da roupa feminina. Damas e cavalheiros devem dançar com os pés descalços.
Pares compostos em rodas fazem parte do elemento básico da dança onde há composição de um círculo, denominado “cordão”.
Sob forte característica sensual dos movimentos, o Cacuriá é dançado com passos marcados, e os dançarinos se utilizam principalmente do rebolado do quadril, improviso e muita interação com o público.
Um casal por vez sai do círculo central e abana com a mão.
Na sequência a dança acontece em separado, embora a dupla chegue a se tocar apenas com o abano no momento do punga, quando retorna ao cordão circular para conceder a vez de outro par brilhar.
Os casais possuem as mais variadas idades, desde jovens até pessoas com 75 anos de idade. Ao passo que a dança se desenvolve as caixeiras cantam as toadas (tipo de letra característica para o canto) de forma improvisada, sem dúvida um desafio encarado por poucos.
O Cacuriá é considerado mistura de marcha, valsa e samba.
Exige excesso de esforço físico. Por esse motivo as partes não duram mais do que trinta minutos.
A dança coreografada, é repleta de simbolismos, e cada passo da dupla transmite a manifestação da cultura, crenças e costumes do povo. Os elementos da natureza fazem parte da maioria das músicas. As composições também brincam com as crenças, brincadeiras antigas e demais anseios em forma popular.
Não se pode ignorar a importância do Cacuriá em preservar as tradições culturais e os conhecimentos populares, dois elementos que fizeram o gênero crescer em principal na região nordestina do Brasil.
O Cacuriá, além de ser muito divertido e de ter um inegável valor cultural, possibilita um interessante trabalho de cuidado com o corpo do outro, pois nele, o toque é parte fundamental e indispensável da brincadeira.
Como recursos atrativos se utilizam do riso e da sensualidade para colocar o público dentro da dança. O rebolado e requebrado do corpo, o contato corporal com o parceiro da dança, o riso e o olhar entre os dançantes e espectadores tornam essa dança provocante e excitante. O prazer relacionado à prática do Cacuriá se reflete na expressão corporal e facial que é o elo direto com todos que participam e assistem.
Grupo que foi fundado em São Luís do Maranhão no mês de maio de 1993, na cidade de Sobradinho, por Seu Laurindo, Dona Florinda e Dona Elisene de Fátima, três personalidades musicais conhecidas como pioneiras do gênero musical.
Especialistas apontam que o respectivo grupo é singular representante do Cacuriá na região de Brasília. Tem características de manter a verdadeira tradição não apenas nos passos da dança como também de instrumentos e indumentárias.
Por doze anos o Centro de Tradições de Sobradinho foi sede principal do Cacuriá na região de Brasília. Na atualidade tem espaço próprio e conta com dezenas de integrantes.
A Festa do Divino Espírito Santo está relacionada de forma direta com o Cacuriá. De fato o evento é considerado como principal atração turística e núcleo de manifestações culturais na região do Maranhão. A festa acontece sete dias após a Páscoa, no dia de Pentecostes. Tem objetivo de celebrar o dia em que Jesus renasceu no sentido de reencontrar os doze apóstolos.
Apesar da tradição cristã a grande parte das pessoas presentes na peça não é apostólica romana praticante. Dentro das celebrações existem influências de outras religiões, em principal àquelas com origem da África. Logo após o carimbó, o Cacuriá é a dança mais profana do evento!
Na região de Brasília existe um grupo de pessoas que trabalha para recolher documentos que comprovam os verdadeiros criadores, assim como herdeiros e representantes oficiais. O objetivo da pesquisa foi recuperar conjuntos de materiais suficientes para solicitar o tombamento e reconhecimento oficial da manifestação cultural de origem brasileira.
Em outubro de 1975 o Departamento de Turismo do Maranhão catalogou o Cacuriá como manifestação folclórica típica da região. Talvez tenha sido o último estilo musical criado em terras maranhenses no século XX.
De acordo com publicação do jornal “A Gazeta”, em 14 de outubro do mesmo ano, o criador do gênero musical foi Alauriano Campos de Almeida, popular Lauro.
Os batuques retratam as peculiaridades dos ritmos da Festa do Divino. As partes dançantes executam passos engraçados, formados no cordão circular em todas as caixeiras e pares.
Seu Lauro aponta que não existe segredo para fazer folclore, basta realizar alguma atividade diferente que serve para divertir o povo. De fato, a ajuda oferecida por órgão público na época não trouxe compensações inclusive em apoiar a confecção das fantasias, o que representou uma pedra no caminho para a evolução do movimento folclórico.
Interessante notar que no ano do reconhecimento do Cacuriá (1975) como manifestação folclórica não aconteceu a tradicional Festa do Divino. Mas atualmente o evento representa um dos grandes polos econômicos da região.
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